segunda-feira, novembro 01, 2010

O Guardador de Rebanhos



XXI


Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...

Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...

O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...

Alberto Caeiro

2 comentários:

leli disse...

Pessoa sabia das coisas.
assino embaixo.

Winter Bastos disse...

Muito bonito o poema de Alberto Caeiro (uma das várias identidades - heterônimos - de Fernando Pessoa). Não me ligo tanto em poesia; meu grande barato é a prosa. Mas alguns poetas são mesmo essenciais como: Pessoa, Augusto dos Anjos, Paulo Leminski, Arnaldo Antunes e João Cabral de Melo Neto.

(www.expressaoliberta.blogspot.com)