domingo, julho 25, 2010

Daquilo que é Apropriado

Ela resguardava-se desesperadamente de qualquer pensamento que a remetesse a sua realidade. Deitada em sua cama com a mente forçando seu corpo desgastado a sentir preguiça, ela bocejava mecanicamente enquanto entopia sua mente com imagens toscas comuns aos programas de tv vespertinos. Apesar de sua mente embotada, a simplicidade do que via não era suficiente para tomar de pronto sua consciência. Então afundava-se em questões cotidianas e reclamações. Quando não, pensava em deus e encontrava legitimidade para a fuga.

"Enquanto estiver parada continuarei agradando ao senhor. Serei recompensada. Essa é uma atitude de gente decente..." - Ela pensa.

A porta se abre, ela escuta. Sem mover seu pescoço, ela tenta adivinhar quem é enquanto mantém sua figura cansada para poder negar qualquer tentativa de movê-la ou forçá-la a novas experiências perigosas.

O homem deita ao seu lado. Ela sente a repulsa pelo seu odor ao mesmo tempo que felicidade pois poderia entreter-se de forma segura. As reclamações poderiam virar brigas. Brigas virariam mais rancores. Rancores se tornariam conexões. Conexões permitiriam mais entretenimento seguro. Mas ele parecia cansado e sentiu uma ponta de decepção da qual preferiu chamar preocupação. Então lembrou que ele vinha de um compromisso. Era apropriado perguntar-lhe alguma coisa, mas era uma decisão difícil iniciar uma conversa. Apesar de querer negar a presença dele e garantir sua segurança naquele fim de tarde, ela sentia algo parecido como obrigação em se demonstrar receptiva e interessada. Algo como um senso de dever que ela classificou como instinto. Ela passou a se sentir violada. Ela conhecia bem a sensação, então resolveu arriscar já que continuar significaria um mudança desconfortável de roteiro.

Algumas frases trocadas. O homem foi furtivo, "graças ao senhor". Ela sentiu que suas obrigações foram cumpridas. Estava livre...

Nada mais apropriado que voltar aos seus pensamentos.

quarta-feira, julho 14, 2010

Arraial da Solidariedade



Convidamos todos e todas a participarem do Arraial da Solidariedade no Centro de Cultura Social do Rio de Janeiro!

Haverá comidas típicas, brincadeiras, apresentação de teatro, muita música e solidariedade no espaço do CCS!

O ingresso custa apenas módicos R$ 2,00. Estaremos também de 12:00h às 14:00h realizando um almoço (com opção vegana) que tem como intenção arrecadar fundos para o espaço e que custará R$ 8,00. Quem pagar o almoço não paga o ingresso de entrada! A compra de ingressos é preferencialmente antecipada para calcularmos os custos do almoço!

E de preferência, usem trajes a rigor!!

Venha apoiar o espaço!

Organização: Centro de Cultura Social - RJ e Grupo Luz do Sol.

Apoio: Movimento dos Trabalhadores Desempregados - RJ "Pela Base".

Mais informações: http://ccs.sarava.org/blog

sexta-feira, julho 09, 2010

Listas II

Inesquecíveis...

1. O fracasso.
2. A morte.
3. Os outros.

domingo, julho 04, 2010

Teísmo e espiritualidade



"A religião é aquilo que impede os pobres de matarem os ricos." - Napoleão Bonaparte

Deus. O título atribuído a entidade mitológica cristã e por extensão as figuras veneradas em outras religiões e culturas não é um conceito complexo. Ele é conectado imediatamente ao mito do ser onipotente, onipresente e onisciente comum ao nosso lado do planeta. É utilizado como base ideológica para legitimar atrocidades, claro. Mas também como base para debates sobre ética e moral e como canal para manifestar sentimentos poderosos.

Antes de tudo o conceito ocidental de deus tem uma função: controle de massas. Homens e mulheres geniais já dissertaram sobre as expressões desse controle dos pobres em suas estruturas sociais e ideológicas. Ele oprime as mulheres, conforma as massas, discrimina homossexuais e legitima a violência física, social e psicológica. Estas são algumas de suas utilizações mais cruéis. Outro ponto imprescindível de se colocar é a incapacidade de se comprovar a existência do chamado "mundo espiritual" e dos seres que nele habitam. Todas as teorias científicas sobre a origem do universo e das espécies se tornaram eficientes pois tem comprovação prática e até hoje mantém resiliência científica. Não há prova da existência de qualquer ser como criador ou influenciador do mundo físico. Essa entidade é parte do conjunto de mitos ocidentais e nada mais. Para finalizar esta pequena lista de premissas, não se pode esquecer que o conhecimento é entendido aqui como uma categoria metafísica produzida através da relação dos homens e mulheres com a natureza. Ele é historicamente determinado e é limitado pelo acúmulo produzido e pelas experiências individuais e coletivas de uma sociedade em constante contradição e transformação. Assim, há um limite ao que se pode conhecer e classifico o culto em massa ao mito cristão como mais uma limitação imposta politicamente às massas do que uma simples questão de escolha individual. Resumindo: deus é usado para controle, não existe e é imposto como verdade absoluta.

Entendendo as posições acima, me faço uma pergunta: Se o mito divino é um instrumento de controle historicamente construído e existe uma demanda imposta a nossa mente (já que o conhecimento é produto de nossa relação com o mundo material), como pessoas instruídas sobre este processo lidam com o paradoxo entre o mito e a realidade?

Encontrei algumas respostas nesse fim de semana.

Existe um poder imenso nas palavras. O processo de imposição deísta diária cria um espaço na mente humana. Apesar da existência de deus não ser lógica e de haver um reconhecimento da natureza mitológica das figuras cristãs, ainda existe um espaço na vida das pessoas. Um espaço que as pessoas passam a chamar de espiritualidade. Espiritualidade passa a ser a dimensão sócio-afetiva destinada a manifestação de crenças baseadas nas emoções de conexão e inteireza. O aparato ideológico força seres humanos a cristalizarem suas ideias e práticas em torno da vivência religiosa e quando seu argumento não possui mais resiliência argumentativa, surge o paradoxo: Deus se vai... mas o espaço destinado a ele permanece. A espiritualidade é o remédio para as mentes menos instruídas e corajosas. Deus passa a ser uma entidade figurativa e as práticas são voltadas ao preenchimento de espaço e insegurança emocional gerada pela falta das muletas sociais produzidas pela religião institucional.

A espiritualidade é a droga do momento!